História da cidade de Lisboa
Período Romano, Bárbaro e Muçulmano
Mérida e uma para Bracara (Braga). A sua característica de "opidum", onde os romanos centram a sua defesa estratégica, resulta do reflexo do terreno por um lado, e da protecção natural perante o estuário do Tejo e o braço deste rio que então se desenvolvia a ocidente e penetrava profundamente no território.
Olisipo (começou assim por se designar a cidade)
caracterizava-se pela existência de um núcleo de população fixa defendida pela
soldadesca. Nos seus arrabaldes foi-se agregando um bom número de famílias
cultivadoras da terra que, em troco de pão, fruta, vinho, legumes e gado,
recebiam protecção e defesa.
A
crise do séc.III que minava e fragilizava a sociedade romana tem os seus
reflexos em toda a Península Ibérica. As sucessivas invasões de novos povos,
quer germanos em 500 d.C. (visigodos, suevos), quer árabes em 700 d.C.,
transformam a fisionomia da população. Devido ao clima de insegurança e de
guerra, a cidade adquire uma feição muito peculiar: fortaleza onde se refugiam
os habitantes fugidos do avanço dos exércitos cristãos. É uma população de
ricos proprietários agrícolas e comerciantes, que se transferem para o interior
das muralhas e constroem uma cidade opulentíssima pelo trato e mercancia dos
portos de África e Ásia.
No período da Reconquista Cristã, a Lisboa muçulmana é
uma cidade cobiçada e várias vezes atacada e ocupada pelos exércitos cristãos
(ocupação por Castela em 1000 d.C.).
Lisboa era então o mais opulento centro comercial de toda
a África e de uma grande parte da Europa. É abundante de todas as mercadorias; tem
ouro e prata. Não faltam ferreiros. Nada há nela inculto ou estéril; antes, os
seus campos são bons para toda a cultura os seus ares são saudáveis, e há na
cidade banhos quentes o alto do monte é cingido por uma muralha circular, e os
muros da cidade descem pela encosta, à direita e à esquerda, até à margem do
Tejo.
Primeira Dinastia
Em 1147, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal,
conquista a cidade. Com a participação cristã, dá-se a expansão de Lisboa para
além das suas muralhas. Herdados do passado existiram dois arrabaldes - a Baixa
e Alfama. O braço do rio desaparece definitivamente no séc.XIII .
D. Fernando, então Rei de Portugal, perante as ameaças de
Castela (Espanha), cria uma nova muralha de defesa designada por "Cerca
Nova"(1373-75).
Dos
16 Hectares do período mourisco a nova cidade passa para 101,65 Hectares ou
seja 6,5 vezes maior. A fixação definitiva da capital do reino, e portanto da
corte, dá-se no reinado de Afonso III.
Lisboa é então o núcleo de um importante sistema
económico de trocas, localizando-se as pequenas propriedades em que predomina a
cultura hortícola, na proximidade imediata, facto que poderá ter influenciado a
localização dos dois mercados centrais de hortaliças: Praça da Figueira e Praça
da Ribeira.
Segunda e Terceira Dinastia
D. João I, Rei de Portugal, cria a primeira urbanização
na colina do Carmo (1400). Pretendia assim dar satisfação às necessidades de
uma população sempre crescente, expropriando para tal os campos.
A corte de D. Manuel I abandona o castelo e fixa o Paço
Real no Terreiro do Paço, onde se centrou toda a vida comercial da cidade
(1500).
Nesta altura surge no Bairro Alto o primeiro loteamento
(renascentista) que transforma hortas e pomares em ruas e casario, crescendo
repentinamente como bairro popular, embora posteriormente se transformasse numa
zona onde a aristocracia viria a construir os seus palacetes.
O Bairro Alto marca a passagem do séc. XVI para XVII na
vida urbana de Lisboa e a aquisição de uma consciência urbanística e
arquitectónica.
Depois do Terramoto de 1755
1755 Marca para Lisboa a data de um período de
desenvolvimento. O terramoto (no dia 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos, às
10h), e o incêndio que se lhe seguiu, devastaram dois terços da totalidade dos
arruamentos e terão destruído três mil casas das vinte mil existentes.
O terramoto abrangeu toda a zona da Baixa, os bairros do
Castelo e a zona do Carmo, ou seja, as zonas mais intensamente urbanas da
cidade.
Em sua substituição iria nascer a Lisboa Pombalina, com
um urbanismo sujeito a regras fixas e de um cientismo pragmático que provoca
admiração em todo o mundo. O seu principal impulsionador foi Marquês de Pombal,
o Primeiro-ministro do Rei D. José, coadjuvado pelos arquitectos e engenheiros,
Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel (1755-76).
O
plano, sem dúvida inovador, baseia-se numa direcção planificada de ruas
alinhadas, cujas opções arquitectónicas assentam em regulamentos de construção,
tendo em atenção conceitos básicos de resistência às acções sísmicas.
O sistema urbanístico obedecia a traçados de eixos de
composição em que a simetria era tema obrigatório, pretendendo-se usualmente
destacar nos extremos, monumentos ou estátuas: a Rua Augusta com o arco
triunfal, através do qual, no seu eixo, se colocou a estátua de D. José.
Pombal criou incentivos de interesse à nova classe da
burguesia comercial.
A norte do Rossio é aberto o "Passeio
Público"(1764), zona de recreio da
burguesia. Era um jardim gradeado, com cascatas, lagos com repuxos e coreto,
que posteriormente foi aberto às novas avenidas e aos futuros bairros
construídos por uma burguesia em ascensão.
A partir de 1780 aparece a iluminação pública da cidade e
em 1801 as ruas passam a ter o nome afixado.
Evolução Pós-Pombalina
Após a vitória do Liberalismo e desde o termo da
administração pombalina a grandiosidade arquitectónica acompanha os edifícios
públicos: Basílica da Estrela, Ópera de S. Carlos, Palácio da Ajuda. Os limites
da cidade são então sucessivamente alargados sempre em "círculos" com
centro na zona da Baixa. O traçado das ruas obedecia a critérios resultantes da
procura de habitação.
A construção do Teatro Nacional D. Maria II ( 1843-46), do
Arqto. F. Lodi, em pleno Rossio Pombalino, com características neo clássicas, é
uma ruptura com o período anterior. Surge um novo espírito de renovação e novos
ideais estéticos. Aparecem jardins novos: S. Pedro de Alcântara, Estrela,
Príncipe Real, bem como a plantação de árvores no Rossio. Surge assim uma visão
naturalista. O "Passeio Público" gera uma avenida e o rompimento das
perspectivas de desenvolvimento da cidade de uma forma nuclear rádio
concêntrica, é absolutamente inovador.
Um novo eixo de desenvolvimento seguir-se-ia à Avenida da
Liberdade. A abertura da Rua Fontes Pereira de Melo que levou a expansão da
cidade desde o Parque da Liberdade (hoje Eduardo VII) até ao Campo Grande,
passando pela Rotunda de Picoas, Avenida Ressano Garcia (Av. República) e toda
a planificação das ruas adjacentes, paralelas e perpendiculares num
desenvolvimento ortogonal. Era o plano Frederico Ressano Garcia, engenheiro do
município. Nascem as designadas "Avenidas Novas", que definem o
grande desafogo urbanístico da cidade de hoje.
Época Moderna
Depois da Iª Guerra Mundial, preenchem-se as malhas
vazias resultantes dos traçados dos eixos das novas avenidas. A Avenida da
Liberdade apresenta-se inequivocamente como eixo primordial da nova cidade. Aparecem
então edifícios como o Hotel Palace e o Palácio de Castelo Melhor (Foz). O
estilo Arte Nova (tardio) revela-se em obras como o Cinema Tivoli do Arquitecto
Raul Lino, o Éden Teatro e o Hotel Vitória do Arquitecto Cassiano Branco. Surgem
novos bairros com imóveis de rendimento, ocupados por uma classe média em
expansão. O equipamento de lazer constitui-se por logradouros ajardinados.
A
partir da década de 30 o arquitecto começa a ter uma maior intervenção na
construção de edifícios novos. É desta época a abertura da Alameda Dom Afonso
Henriques.
É o período Duarte Pacheco, Presidente da Câmara e
posteriormente Ministro das Obras Públicas (1930-43).
Constroem-se novos bairros assumidamente desenhados pelos
novos urbanistas de ruas largas e homogeneidade do desenho das fachadas,
(vulgarmente designados de estilo Português Suave).
Sob a orientação de Duarte Pacheco, o Município decide-se
pela criação de um parque verde em Monsanto. Atravessado por uma auto-estrada
que liga Lisboa ao Estádio Nacional é feita a arborização do parque instituindo
um sistema jurídico de expropriação dos terrenos especialmente para esse
efeito.
Reconhecia-se então que um plano de urbanização para a
cidade teria de envolver um programa de criação de parques e jardins, não só como
fundamento de beleza e apresamento dos seus frequentadores, mas também como
reserva de ar puro imprescindível à vida na cidade.
São criados novos bairros (Encarnação e Alvalade)
antecessores do aparecimento e desenvolvimento da urbanização de Olivais e Chelas,
numa aplicação dos princípios preconizados na Carta de Atenas.
É a época dos grandes blocos residenciais livres e
separados por zonas verdes, procurando uma maior exposição solar e melhor
arejamento segundo os modelos já ensaiados noutros países. É também desta época
o arranjo ajardinado das praças que resultam da composição urbanística, com o
objectivo de criar zonas de lazer e jogos infantis.
Mais recentemente aparecem iniciativas municipais de
conjunto coabitando com urbanizações privadas localizadas aqui e ali, que
preenchem os espaços "ainda livres", das zonas limítrofes da Lisboa
Cidade.
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